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Bom Jesus
Compartilhar:Os índios kaingang habitavam os Campos de Cima da Serra. Seus vestígios podem ser vistos até hoje em cavernas e terras de cultivo.
No final do século XVII e início do sécul XVIII, com o ataque dos bandeirantes, os jesuítas dos Sete Povos das Missões transportaram grande quantidade de animais, principalmente bovinos, equinos e asininos, para “escondê-los”, na região hoje conhecida como Campos de Cima da Serra. Foram introduzidas milhares de reses na área, as quais proliferaram seguindo a lei da natureza.
No início do século XVIII, principiou o ciclo do tropeirismo de mulas, interligando o norte da Argentina com Sorocaba em São Paulo, movimentando um ativo comércio com passagem pelo Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Com este ciclo, caminhos foram abertos.
Na região dos Campos de Cima da Serra, dois caminhos passaram a ser transitados pelos tropeiros: o Caminho dos Conventos, aberto por Souza Farias, e o caminho de Cristóvão Pereira de Abreu, motivando a concessão de sesmarias. As primeiras doações de terras ocorreram em 1752, 1754 e 1755, com as quais iniciou o povoamento do território. Com as sesmarias instalaram-se as fazendas, sendo seus primeiros proprietários os portugueses, na maioria lagunenses, acompanhados pelos seus escravos negros.
Com o movimento de tropas circulando do Rio Grande do Sul para Sorocaba, em São Paulo, a mando do governo português, foi instalado um posto de cobrança de impostos no rio Pelotas, que ficou conhecido como Passo de Santa Vitória. Este registro fixado entre o Rio Grande do Sul e as demais capitanias do Brasil, tornou-se um grande posto arrecadador para os cofres da coroa.
No final de 1800, chegaram as primeiras famílias alemãs vindas de Três Forquilhas com o objetivo de adquirir fazendas, enquanto os italianos vieram de Antônio Prado no início de 1900, para suprir as necessidades de profissionais, tais como: seleiros, ferreiros, comerciantes, entre outros.
A miscigenação dessas etnias mais os índios, primeiros habitantes dessa imensa extensão territorial, deu origem ao povo serrano.
Em 1808, foram criados os quatro primeiros municípios do Rio Grande do Sul, sendo um deles Santo Antônio da Patrulha, que abrangia também os Campos de Cima da Serra, onde está localizado Bom Jesus.
Com a emancipação de Vacaria, Bom Jesus passou a pertencer a esse município, como 3º distrito chamado “Da Costa”.
Sendo a religião católica predominante e faltando assistência aos povoadores, foi solicitada a criação de uma capela, a qual foi autorizada pela portaria do bispo do Rio Grande do Sul Dom Sebastião Dias Laranjeira, em 26 de março de 1879. O padroeiro Senhor Bom Jesus do Bom Fim, foi escolha de Manoel Silveira de Azevedo, proprietário das terras onde foi construída a capela, cumprindo uma promessa feita quando participou da Guerra do Paraguai.
A Paróquia do Senhor Bom Jesus tem sua criação em 12 de dezembro de 1918. A capela transformou-se ao longo dos anos, na igreja matriz Senhor Bom Jesus.
Entre os fatores que desgostavam os habitantes do 3º distrito estava a distância da sede Vacaria, o que dificultava a assistência espiritual da população local, bem como, os impostos pagos em dias de serviço, para a melhoria das estradas, estas eram realizadas longe da área onde residiam, levando-os a pedir a emancipação, a qual ocorre em 16 de julho de 1913, durante o governo do Dr. Antônio Augusto Borges de Medeiros, através do decreto nº 2000. O primeiro intendente foi o engenheiro Arthur da Silva Ferreira.
Bom Jesus, desde seus primórdios, tem ligação com a passagem das tropas xucras ou soltas por seu território; esta é a base identitária do surgimento do atual município.
Com a fixação de povoadores era preciso ter tropas arreadas para organizar e manter os espaços do povoamento. Em geral cada fazenda tinha uma tropa entre dez e vinte cargueiros, os quais levavam o excedente para outras localidades e traziam o necessário para o prosseguimento das mesmas.
A região, hoje denominada Bom Jesus, foi integrada, ao país e mesmo ao restante do Rio Grande do Sul, através dos tropeiros com suas tropas xucras e arreadas.
Confirmando e valorizando suas raízes ligadas ao tropeirismo, em 1992 Bom Jesus criou o Seminário Nacional sobre Tropeirismo, (I SENATRO), tendo assegurado seu futuro através da lei nº 1537 de 12 de junho de 1992, proposta do então prefeito municipal Dr. Geraldo Spinelli Grazziottin. Em 1998 foi realizado o IV Seminário Nacional e o I Encontro do Cone Sul sobre Tropeirismo (IV SENATRO). A realização deste evento acontece de dois em dois anos, ficando sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Desporto e Lazer -SMEC, estando em 2020, na sua XV edição.
Bom Jesus através das edições do SENATRO, projetou-se nacional e internacionalmente.
Reconhecendo as raízes tropeiras de Bom Jesus foram aprovadas leis que denotam o pertencimento dos bom-jesuenses ao ciclo do tropeirismo: - Lei nº 2670 de 19 de agosto de 2010, instituiu 16 de julho como o Dia do Tropeiro, uma proposição do vereador Cassiano Suzin Subtil; - Lei nº 3.043 de 13 de agosto de 2014, criou a bandeira do tropeirismo, uma proposição do então prefeito Frederico Arcari Becker; - Lei nº 14.115, de 29 de outubro de 2012, declarou o município de Bom Jesus como a “Capital Estadual do Tropeirismo”, uma proposta do deputado Francisco Appio. E o Projeto de Lei de 2013 do deputado Assis Melo conferiu o título de “Capital Nacional do Tropeirismo” a Bom Jesus.
A SMEC, sentindo a necessidade de instrumentalizar os professores das escolas de Bom Jesus desenvolve, nos intervalos do SENATRO, o projeto “Tropeirismo nas Escolas”, quando são realizadas oficinas referentes às atividades tropeiras, sendo oficineiros Valter Fraga Nunes, Marco Aurélio Angeli (Zoreia), Manoel Maria da Silva (Manoel Gaspar), Cláudio Borges e Wilian Marcelo dos Santos Goulart.
Referências
OLIVEIRA, Sebastião Fonseca de. Aurorescer das sesmarias serranas: história e genealogia. Porto Alegre: EST, 1996.
SANTOS, Lucila Maria Sgarbi et al. (Org.) Bom Jesus na rota do tropeirismo no Cone Sul. Porto Alegre: EST, 2000.
_____ et al. (Org.). Bom Jesus na rota do tropeirismo no Cone Sul. Porto Alegre: EST, 2004.
SANTOS, Lucila Maria Sgarbi et al. (Org.). Raízes de Bom Jesus e São José dos Ausentes. Porto Alegre: CORAG, 2016, 3 v.
VELHO, Adenair Pereira; ALMEIDA, Júlio Henrique Kramer de; SANTOS, Lucila Maria Sgarbi. (Org.). Tropeirismo na Educação Básica. Porto Alegre: CORAG, 2008.